29 de junho de 2010

Acesso


Até mesmo quando a dor me dasafia
o desânimo não me faz companhia.

Se não houver porta,
eu vou criar.

O eco

''Ama, quieto e em silêncio.
É tão medroso o amor, que um gesto o esfria e a voz o gela."



"Perguntei à minha vida:
Como achar a apetecida
felicidade absoluta?
E um eco me disse:
- Luta!

Lutei. - Como hei de a esta pena
dar cadência serena
que suaviza, embala e encanta?
O eco, então, me disse: 
 -Canta!

Cantei. - Mas, como, num verso,
resumir todo o universo
que em mim vibra, esplende e clama?
Então o eco me disse:
- Ama

Amei. - Como achar agora
a alma simples que eu pus fora
pelo prazer de buscá-la?
O eco, então, me disse:
- Cala!

Calei-me. E ele, então, calou-se.
Nunca a vida foi tão doce...
Tudo é mais lindo a meu lado:
Mais lindo, porque calado." 

27 de junho de 2010

Eu percebo que...

25 de junho de 2010

Travessia


E para escrever
a gente
se ajeita
em letras despidas
feito o nascimento
do falar
preenchendo
corpo
e papel.

É uma confissão
de pecados
absolvidos em poemas
que moram
dentro
do sacrário
da nossa alma.

Só um pouco mais

Espera.
Espera um pouco
Acho tão incongruente você ir
Tateio no escuro os motivos
Precisas mesmo partir?
Derramo-me no vento para segurar-te
Ele corta-me
Você parte.
És anjo em letras de areia
E embora o teu sorriso eu leia
Sinto muita saudade
Eu não criei anticorpos pra tanta realidade
Penso, con(sinto) e calo
E quando falo
Que já consigo seguir
Apaixonadamente
Perco-me propositalmente
Em ti.

24 de junho de 2010

Em nós

  
 O amor sempre nos deixa rastros
Musical e profundo em todo seu viés.
É o fora do comum sem pré-aviso
Motivo de bochechas quentinhas de riso
E passos que fazem cócegas nos pés.

Guardado no Céu



“Eu acho que há muitos céus, um céu para cada um.
O meu céu não é igual ao seu.
Porque céu é o lugar de reencontro
com as coisas que a gente ama
e o tempo nos roubou.
 No céu está guardado tudo aquilo que a memória amou…“

23 de junho de 2010

Inteiramente


Dizes que brevemente serás a metade de minha alma.
A metade? Brevemente?
Não: já agora és, não a metade, mas toda.
Dou-te a minha alma inteira,
deixe-me apenas uma pequena parte para que eu possa existir por algum tempo e adorar-te.



(Cartas de amor a Heloísa)
Graciliano Ramos

Eu vi primeiro



Menina de saia


Ela se faz de caminhos

Que de um pulso não abriu

E de repente como a rosa aflora

E se a raiva fosse embora

O amor veio e não a partiu


Porque ela roubou o vinho

Guardado na adega de Deus

E do sorriso fez-se a piada

Dançou com sua saia rodada

Bordada com beijos meus


E de amor fez-se amigo

Do balaio fez minha cantoria

De seu corpo, uma aprendiz

Que cobiça o poema que lhe fiz

Onde ela é a minha insegura rima.

Marcelo Mayer




22 de junho de 2010

Desnudar-se

O pássaro,
despiu-se das asas
e deitou
 nas folhas.
Acho que ele sabe
que é preciso 
nudez
para voar
em palavras.

14 de junho de 2010

Resposta ao tempo...



"Batidas na porta da frente
 É o tempo
 Eu bebo um pouquinho
 Prá ter argumento
 Mas fico sem jeito
 Calado, ele ri
 Ele zomba
 Do quanto eu chorei
 Porque sabe passar
 E eu não sei ..."

(Resposta ao tempo - Nana Caymmi)

11 de junho de 2010

Giz de Cera

Para colocar tonalidade na face branca,
busquei o giz de cera que gritava na escrivaninha.
Quem sabe assim consigo pintar um sorriso,
daqueles que você gostava [com covinha].